Nos filmes de zumbi, uma epidemia viral incontrolável devasta a humanidade, transformando as pessoas em monstros sem consciência e com tendências canibais. Mas se os mortos não podem voltar à vida, alguns vírus podem induzir comportamentos agressivos parecidos com os dos zumbis, segundo cientistas ouvidos pelo documentário “A Verdade por trás dos Zumbis”, da National Geographic.
Por exemplo, raiva – uma doença viral que infecta o sistema nervoso central – pode fazer com que os doentes tenham acessos violentos de loucura, de acordo com Samita Andreansky, virologista da Universidade de Miami. Combine isso com a habilidade de se espalhar pelo ar, como o vírus da gripe, e pode-se obter o início de um apocalipse zumbi.
Um mutação possível
Ao contrário dos zumbis do cinema, que se reanimam quase imediatamente após a infecção, os primeiros sinais que uma pessoa tem raiva (também chamada de hidrofobia) – como ansiedade, confusão, alucinações e paralisia – podem demorar entre dez dias e um ano para aparecer, porque o vírus fica incubado no corpo. Mas depois que a doença se instala, ela mata em uma semana, se não for tratada.
Mas se o código genético do vírus da raiva passasse por mutações, seu tempo de incubação poderia ser reduzido drasticamente, dizem os cientistas.
Muitos vírus têm altas taxas de mutação e mudam constantemente, como um modo de escapar das defesas de seus hospedeiros. Existem várias maneiras pelas quais mutações virais podem acontecer, como erros de cópia durante a replicação dos genes ou danos causados por luz ultravioleta. “Se um vírus de raiva conseguir mutar rápido o bastante, ele pode causar a infecção em poucas horas. É completamente plausível,” disse Samita.
Raiva pelo ar pode criar “vírus da ira”
Mas para o vírus da raiva causar uma pandemia de zumbis como nos filmes, ele também teria que ficar muito mais contagioso.
Seres humanos normalmente pegam raiva depois de serem mordidos por um animal doente, normalmente um cachorro – e a infecção para aí. Graças a campanhas de vacinação, a doença é rara nos Estados Unidos, e são poucas as mortes causadas por ela. Em 2008, apenas dois casos de raiva humana foram relatados ao governo americano.
Um modo mais rápido de transmissão seria pelo ar, que é como o vírus da gripe se espalha.
“Tudo que a raiva precisa fazer é se tornar transmissível pelo ar, e você terá o vírus da ira, como em ‘Extermínio’, “ disse Max Mogk, chefe da Sociedade de Pesquisas de Zumbis, no documentário, se referindo ao filme de 2002 dirigido por Danny Boyle. A organização sem fins lucrativos se dedica a “elevar o nível de estudos sobre zumbis nas artes e ciências”, de acordo com seu site. http://www.zombieresearch.org/
Para isso acontecer, a raiva teria que “emprestar” traços de outro vírus, como o da gripe.
Tipos diferentes, ou cepas, do mesmo vírus podem trocar pedaços de DNA por processos de recombinação, de acordo com Elankumaran Subbiah, virologista da universidade Virginia Tech, que não participou do cdocumentário.
Mas vírus sem parentesco simplesmente não se misturam facilmente na natureza, Subbiah explica. Da mesma maneira, é inédito que dois vírus radicalmente diferentes como o da gripe e da raiva emprestem traços um do outro, diz. “Eles são diferentes demais. Não conseguem dividir informações genéticas. Vírus apenas montam partes que pertencem a eles, e não se misturam com partes de famílias diferentes”.
Receita de vírus-zumbi
Em teoria, é possível – embora extremamente difícil – criar umvírus híbrido de raiva e gripe usando técnicas modernas de engenharia genética, diz Samita.
“Sim, eu poderia imaginar um cenário onde você mistura raiva com um vírus de gripe para conseguir transmissão aérea, com sarampo para provocar mudanças de personalidade, com encefalite para cozinhar o cérebro com febre --- o que aumentaria ainda mais a agressividade – e jogar um pouco de ebola para dar algumas hemorragias internas. Combine tudo isso e você terá algo parecido com um vírus-zumbi”, a cientista diz.
“Mas a natureza não permite que as coisas aconteçam ao mesmo tempo. O que provavelmente conseguiríamos é um vírus morto.”
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